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E. S. Bravo Filho et al.: Melocactus no estado de Sergipe (Brasil) e sua conservação
Melocactus (Cactaceae) no estado de Sergipe (Brasil)
e aspectos de sua conservação
ä
Resumo O gênero Melocactus da família Cactaceae, subfamília Cactoideae é composto
por 38 espécies distribdas no Brasil, América Central, Caribe e nos Andes, sendo que no
Brasil ocorre a maior diversidade mundial deste gênero (23 espécies). No estado de Sergipe,
o ecossistema Caatinga ocupa quase 50% de seu terririo, vegetação, onde ocorre o maior
número de espécies do gênero Melocactus no Brasil. Este estudo teve por objetivo fazer um
levantamento florístico do gênero Melocactus no estado de Sergipe e analisar aspectos de
sua conservação. Os resultados foram obtidos através de levantamento na base de dados do
herbário (ASE), SpeciesLink e coletas de campo, onde foram registradas coordenadas geográ-
ficas e altitude. Espécimes em fase reprodutiva, foram coletados para registro e identificação
no herrio (ASE). Foi identificado o domínio fitogeográfico das escies nas macrorregiões do
estado, o qual possibilitou o registro da ocorrência de cinco espécies deste gênero, e destas,
uma nova (Melocactus sergipensis) a qual encontra-se criticamente ameaçado de extinção.
Palavras-chave: Caba-de-frade; Conservação; Diversidade local; Fitogeografia.
ä
Abstract The genus Melocactus of the family Cactaceae, subfamily Cactoideae is com-
posed of 38 species distributed in Brazil, Central America, the Caribbean and in the Andes,
and in Brazil the greatest world diversity of this genus (23 species) occurs. In the state of
Sergipe, the Caatinga ecosystem occupies almost 50% of its territory, vegetation, where the
largest number of species of the genus Melocactus occurs in Brazil. This study aimed to make
a floristic survey of the genus Melocactus in the state of Sergipe and to analyze aspects of
its conservation. The results were obtained through a survey in the herbarium database (ASE),
SpeciesLink and field collections, where geographic coordinates and altitude were recorded.
Specimens in the reproductive phase were collected for registration and identification in the
herbarium (ASE). The phytogeographical domain of the species was identified in the macro-
regions of the state, which made it possible to record the occurrence of five species of this
genus, and a new one (Melocactus sergipensis), which is critically endangered.
Key words: Turks cap cactus, Conservation, Local Diversity, Phytogeography.
Bravo Filho, Eronides S.
1
*
; Marlucia, C. Santana
2
; Paulo, A. A. Santos
2
;
Adauto, S. Ribeiro
3
1
Universidade Federal de Sergipe UFS, Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Av. Marechal
Rondon s/n, C.E.P. 49.100-000, São Cristóvão-Sergipe, Brasil.
2
Universidade Federal de Sergipe UFS, Departamento de Biologia. Av. Marechal Rondon s/n, C.E.P.
49.100-000, São Cristóvão-Sergipe, Brasil.
3
Universidade Federal de Sergipe UFS, Departamento de Ecologia. Av. Marechal Rondon s/n, C.E.P.
49.100-000, São Cristóvão-Sergipe, Brasil.
* Autor para contato: esbravof@gmail.com
ä Ref. bibliográfica: Bravo Filho, E. S., Marlucia, C. S., Paulo, A. A. S., Adauto, S. R. (2018). Melocactus
(Cactaceae) no estado de Sergipe (Brasil) e aspectos de sua conservação. Lilloa 55 (1): 16-25.
ä Recibido: 19/02/18 Aceptado: 27/04/18
ä URL de la revista: http://lilloa.lillo.org.ar
ä Algunos derechos reservados. Esta obra está bajo una Licencia
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4.0 Internacional.
D . O . I . : do i. or g /1 0. 30 5 50 /j .l il / 20 18 .5 5 .1 /2
Melocactus (Cactaceae) in the state of Sergipe (Brazil) and
aspects of its conservation
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Lilloa 55 (1): 1625, 8 de junio de 2018
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Lilloa 55 (1): 1625, 8 de junio de 2018
INTRODUÇÃO
O gênero Melocactus Link & Otto perten-
ce à família Cactaceae, subfamília Cactoide-
ae, é composto por 38 espécies, cujo centro
mundial de diversidade é o Nordeste do Bra-
sil (Correia, Nascimento, Gomes Filho, Lima,
Almeida, 2018). Sua distribuição é ampla,
ocorrendo desde a América Central, México,
Caribe, Andes, e no Brasil ocorre no Norte
(estados do Amazonas e Roraima), Sudeste
(estados do Espirito Santo, Minas Gerais e
Rio de Janeiro) e em todos estados do Nor-
deste, com exceção do Maranhão (Zappi,
Taylor, Santos, Larocca, 2015; International
Union for Conservation of Nature [IUCN]
(2016); Bravo Filho, Santana, Santos, Ri-
beiro, 2018).
No Brasil ocorrem 23 espécies do gênero
Melocactus, sendo 21 destas endêmicas, nú-
meros que faz do Brasil o detentor do maior
número de espécies nativas deste táxon no
mundo. As escies deste gênero crescem
em biomas e altitudes diversificados, com
maior ocorrência na Caatinga, Cerrado e
Mata Atlântica (Resende, Lima-Brito, San-
tana, 2010; Zappi et al., 2015).
Os Melocactus são conhecidos popular-
mente como «cabeça-de-frade, coroa-de-fra-
de, coroinha e tamborete-de-sogra» e fazem
parte da cultura do Nordeste brasileiro, uma
vez que, encontram-se entre as plantas mais
utilizadas em uma ampla diversidade de usos
(ornamental, místico, medicinal, veterinário,
na fabricação de produtos diversos, na produ-
ção de alimentos, como forragem para rumi-
nantes e são fonte de inspiração para a criação
de cordéis, poesias, lendas e canções) (Bravo
Filho, 2014; Lucena et al., 2015; Silva, 2015;
Bravo Filho, et al., 2018).
Apesar do extrativismo, do alto grau de
endemismo e da elevada taxa de degradação
dos biomas de ocorrência destas espécies no
Brasil, não se observa cultivos comercial com
o objetivo de suprir os usos, os escimes
são removidos inteiros de seu ambiente na-
tural sem considera o seu ritmo de resili-
ência (Plano Nacional Para conservação das
Cactaceae [PAN] (2011); Silva, Prata, Sou-
to, Mello, 2013; Livro Vermelho da Flora do
Brasil [LVFB] (2013); Bárbara et al., 2015;
Menezes e Ribeiro-Silva, 2015).
Desta forma, fazem-se necessários es-
tudos mais aprofundados sobre a biologia
reprodutiva e populacional deste gênero.
Objetivando subsidiar a crião de políti-
cas públicas de conservação deste grupo de
plantas que, atualmente, possui nove espé-
cies nativas incluídas na Lista das Espécies
com Risco de Extinção do Livro Vermelho da
Flora do Brasil, número que corresponde a
40,9% da biodiversidade nativa de Melocac-
tus no país e 24,32% da diversidade mundial
(LVFB, 2013).
O Estado de Sergipe possui ecossistema
pico de ocorrência da família Cactaceae,
visto apresentar clima semrido e seco,
com formação vegetal composta por dunas
costeiras, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado
e áreas rochosas (Santos e Andrade, 1998;
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
dos Recursos dricos [SEMARH], 2012).
Contudo, observa-se que vários municípios
sergipanos que apresentam ecossistemas
característicos de ocorrência do gênero Me-
locactus não possuem registro destas espé-
cies no Herrio da Universidade Federal
de Sergipe-ASE ou outros meios como o
SpeciesLink, Ministério do Meio Ambiente
e na Lista de Espécie da Flora do Brasil. Até
2014, no Herbário-ASE, havia o registro de
quatro espécies (Melocactus violaceus Pfeiff,
Melocactus violaceus subsp. margaritaceus
N.P. Taylor, Melocactus zehntneri (Britton &
Rose) Luetzelb. e Melocactus ernestii Vaupel
subsp. ernestii) distribuídas em oito municí-
pios (Herbário da Universidade Federal de
Sergipe [ASE], 2015; Bravo Filho, 2014). O
objetivo dessa pesquisa foi realizado um le-
vantamento florístico do gênero Melocactus
no estado de Sergipe e avaliar o status de
conservação.
MATERIAL E MÉTODOS
As coletas foram realizadas em 19 mu-
nicípios do estado de Sergipe: Aracaju, Am-
paro de São Francisco, Barra dos Coqueiros,
Canhoba, Estância, Gararu, Itabaiana, Itapo-
ranga D’Ajuda, Japaratuba, Japoatã, Macam-
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E. S. Bravo Filho et al.: Melocactus no estado de Sergipe (Brasil) e sua conservação
bira, Monte Alegre, Neópolis, Nossa Senhora
da Glória, Pacatuba, Pirambu, Porto da Fo-
lha, Poço Verde e Simão Dias, no período
de setembro de 2013 a dezembro de 2016.
Exemplares das espécies de Melocactus em
fase reprodutiva foram coletados e levados
ao herbário-ASE da Universidade Federal de
Sergipe (UFS), para herborização, preparo
das exsicatas e posteriormente identificação,
catalogação e registro das espécies. O regis-
tro das coordenadas geográficas para mon-
tagem do mapa, foi obtido com GPS marca
NBA100 e modelo 65-Channel.
Essas localidades foram definidas através
dos seguintes critérios: a) relato de comer-
ciantes de cactáceas em feiras livre; b) relato
de pessoas da comunidade; c) excursões aos
locais que apresentam ecossistemas típicos
da ocorrência das escies de Melocactus,
contudo sem registro de coletas no Herbá-
rio-ASE da UFS.
As pesquisas realizadas nas cidades de
Canin de São Francisco, Areia Branca,
Pacatuba, Po Redondo, Santo Amaro das
Brotas e Tobias Barreto, limitaram-se a uma
revisão nos registros do Herbário-ASE da
Universidade Federal de Sergipe.
C
oleta e transporte do material
botâniCo
A coleta do material botânico ocorreu
com auxílio de luvas de couro e espátula de
ferro. Após a remoção, os espécimes foram
colocados em sacos plásticos com a identifi-
cação da espécie. Cada espécie coletada foi
previamente identificada com uma etiqueta
contendo o número da coleta. A partir desta
numeração foi montado um banco de dados
em um caderno de campo contendo informa-
ções sob o local da coleta, tipo de vegetação,
tipo de solo, altitude, coordenadas geográfi-
cas e características da espécie como altura,
diâmetro e cor do caule, cor dos frutos, das
flores e do cefálio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As coletas realizadas no presente estudo
ampliaram o número e a distribuição geográ-
fica das espécies de Melocactus no Estado,
pois proporcionaram em junho de 2014 a
descoberta de uma nova espécie, a qual foi
descrita pelo Dr. Nigel Paul Taylor (Singa-
pore Botanic Garden), especialista do gêne-
ro. Em homenagem ao estado de Sergipe,
a nova espécie foi nomeada de Melocactus
sergipensis N.P. Taylor & M.V. Meiado (Taylor,
Meiado, Bravo Filho, Zappi, 2014).
Esta nova escie, devido ao número
extremamente reduzido de indivíduos em
sua população (com aproximadamente 100
espécimes em fase reprodutiva) e por estar
em um ambiente fortemente antropizado
(fragmento de vegetação rodeado por plan-
tações de milho e isolado entre estradas),
encontra-se criticamente ameaçada de extin-
ção (CR) (Taylor et al., 2014). O Melocactus
sergipensis (Fig. 1) é atualmente a única es-
pécie dafamília Cactaceae endêmico do esta-
do de Sergipe, bem como a única ocorrente
no estado com statuscriticamente ameaçada
de extinção (CR). Desta forma, essa espécie
necessita de atenção urgente do poder públi-
co para garantir a conservação e evitar a sua
extinção (Taylor et al., 2014; Convention on
International Trade in Endangered Species of
Wild Fauna and Flora [CITES], 2016).
Com a inclusão da nova espécie no herbá-
rio da Universidade Federal de Sergipe (ASE
31075 E.S. Bravo Filho 15), foi possível
identificar, cinco espécies do gênero Melo-
cactus ocorrentes no estado, distribuídas em
21 munipios (Fig. 2), além de ratificar e
ampliar algumas informações contidas no
Herbário ASE da UFS, SpeciesLink e na Lista
de Espécie da Flora do Brasil.
Em relação às informões contidas na
Lista de Espécies da Flora do Brasil (2014),
a qual citava a ocorrência de quatro espécies
de Melocactus (M. ernestii subsp. ernestii, M.
violaceus Pfeiff., M. violaceus subsp. margari-
taceus eM. zehntneri), foi possível ratificar a
ocorrência destas espécies (Fig. 3), além de
inserir mais 12 municípios sergipanos no rol
dos citados no Herbário da Universidade
Federal de Sergipe [ASE]. (2015); Species-
Link (2014) e na Lista de Espécie da Flora
do Brasil (2014).
Através da Fig. 2, observa-se a ocorrência
do gênero Melocactus em 21 municípios de
19
Lilloa 55 (1): 1625, 8 de junio de 2018
sergipanos, sendo seis pertencem à mesorre-
gião do Alto Sertão (Canindé de o Fran-
cisco, Gararu, Monte Alegre, Nossa Senhora
da Glória, Poço Redondo e Porto da Folha),
nove ao Leste do estado (Aracaju, Pirambu,
Estância, Itaporanga D’ Ajuda, Japaratuba,
Japoatã, Neópolis, Pacatuba e Santo Amaro
das Brotas), e seis a região Agreste (Areia
Branca, Itabaiana, Macambira, Poço Verde,
Simão Dias e Tobias Barreto). Na Fig. 3, es-
pécies do gênero Melocactus que compõem
a flora sergipana.
As espécies do gênero Melocactus, são
plantas cônicas, globulosas ou subglobosas,
solitárias ou formando colônias, com até 45
cm de altura, compostas por costelas verti-
cais. Caule tipo cladódio, fotossintetizante,
suculento não ramificado e aréolas peque-
nas. Espinhos cilíndricos quebradiço ou não,
pequenos e grandes, variando de 1-10 cm
de comprimento. Celio apical, terminal,
tricomas brancos com cerdas vermelhas ou
brandas. Flores pequenas, tubulares, actino-
móficas, rosa ou vermelha, surgindo no cefá-
lio terminal no início da tarde e polinizadas
por lagartos, colibris, moscas e borboletas.
Frutos baga, branco, lilás, rosa ou verme-
lho, de forma nica, contendo de 8 a 45
sementes. Fruto com desenvolvimento total
dentro do cefálio e só são acessíveis quando
maduros, pois são expostos na superfície do
cefálio, fato que ocorre em um período com-
preendido entre 40 a 60 dias após a antese
(Bravo Filho, 2014; Silva e Santos, 2007;
Fonseca, Funch, Borba, 2012).
CHAVE PARA IDENTIFICAÇÃO DAS
ESPÉCIES DE
MELOCACTUS DE
SERGIPE
1 Plantas globular, 10-14 x 10-18 cm,
caule verde-acinzentado, 8-10 costelas,
5-6 aréolas por costela, 8-10 espinhos
quebradiços e levemente curvados na
extremidade, fruto rosa-claro com tons
de branco na extremidade basal, em
Caatinga ............... 1. M. sergipensis
1 Planta globular, 15-35 x 10-20 cm,
caule verde, 9-10 costelas, 8-9 aréolas
por costela, de 9 a 10 espinhos curva-
Fig. 1. População de Melocactus sergipensis em seu ambiente natural. Fonte: Bravo Filho
et al. (2015).
20
E. S. Bravo Filho et al.: Melocactus no estado de Sergipe (Brasil) e sua conservação
dos para os lados ou reto, em Caatinga
.................................................. 2
2 Fruto branco, caule discoide a subglobo-
sa, 15-20x 18-20 cm, caule verde, 8-10
costelas, 5-9 aréolas por costela, 4-6 es-
pinhos, em Restinga ........................
... 3. M. violaceus subsp. margaritaceus
2 Fruto branco, caule cônico, 20-40 x
20-30 cm, caule verde-escuro, 10-12
costelas, 11-15 aréolas por costela, 8-
9 espinhos retos, em Restinga ..........
............................... 4. M. violaceus
3 Espinhos longos 8-14 cm, planta cônica,
20-45x 20-30 cm, caule verde-claro, 9-
13 costelas, 10-15 aréolas por costela,
espinhos por costela,fruto rosa-escuro,
em Caatinga ............... 5. M. ernestii
3 Espinhos médios 3-5 cm, fruto rosa-
magenta com tons de branco na parte
basal ........................ 2. M. zehntneri
1. Melocactus sergipensis
N.P. Taylor & M.V. Meiado,
Bradleya 32: 99. 2014
Planta rupícola, caule verde acinzentado
de forma globular, até 14 cm de altura por
14 cm de diâmetro, com 8-10 costelas intei-
ras, as quais são compostas por 5-6 aréolas
e cada aréola possui de 8-10 espinhos de cor
cinza, quebradiços e levemente curvados na
extremidade, os quais variam de 2-3,5 cm
de comprimento. Cefálio branco, flores com
tons rosa-claro, fruto suculento tipo baga,
cônicos de cor rosa-claro com tons brancos
na parte basal e de tamanho variando entre
1-2 cm de comprimento por 7 mm de diâ-
metro. Os frutos possuem de 7-16 sementes,
as quais apresentam diâmetro dio de 1
mm, tegumento rugoso, rígido de cor preta
e formato ovoide (Bravo Filho, 2014).
Fig. 2. Mapa da distribuição atual das espécies do gênero Melocactus no estado de Sergipe.
Fonte: Modificado de Bravo Filho (2014).
21
Lilloa 55 (1): 1625, 8 de junio de 2018
Espécie ocorrente na região Sul do estado,
no município de Simão Dias, Sergipe, Brasil.
Até o momento apenas uma população de M.
sergipensis foi registrada (Fig. 3A), crescendo
sobre um afloramento rochoso graníticos, me-
tamórficos e úmido, em uma área de ocupa-
ção de aproximadamente 1.000 m
2
, inserida
em uma pequena mancha de Caatinga e em
meio a uma plantação de milho localizada no
Povoado Paracatu de Cima (10º46’16 00’’ S;
37º53’43 90’’ W - altitude de 110 m). Esta
população encontra-se isolada entre estradas
em um ambiente fortemente antropizado e
degradado pela atividade agrícola, restando
apenas a vegetação nativa das localidades
rochosas, visto ser imprópria para a introdu-
ção da atividade agrícola (Bravo Filho, 2014;
Taylor et al., 2014).
Material selecionado: Brasil. Sergipe:
Sio Dias, 2014. Bravo Filho 15 (ASE-
31075).
2. Melocactus zehntneri
(Britton & Rose) Luetzelb., Estud. Bot.
Nordeste 3: 111. 1926
Planta rupícola e terrícola, caule verde de
forma globular, composto por 9-10 costelas
inteiras, as quais são sequenciadas por 8-9
aréolas e cada aréola possui de 9-10 espi-
nhos curvilíneos ou retilíneos medindo de 2-
3 cm de comprimento.Os frutos são cônicos,
de cor rosa-magenta com tons de brando na
parte basal, medindo de 1,5-2,5 cm de com-
primento por 7 mm de diâmetro, contendo
de 20-45 sementes por fruto.
O Melocactus zehntneri (Fig. 3B) apresen-
ta-se distribuída em oito munipios, Canindé
de São Francisco (9º72’31 67’’ S; 37º96’76
94’’ W), Gararu (9º55’28 80’’ S; 37º07’29 81’’
W), Macambira (10º41’06 75’’ S; 37º35’27
40’’ W), Monte Alegre (S: 058’46,70’’ S;
37°25’37,00’’ W), Nossa Senhora da Glória
(10º09’76 S; 37º35’52 27’’ W), Porto da Fo-
Fig. 3. Diversidade de escies do gênero Melocactus no estado de Sergipe, registrado por
meio desta pesquisa. A) Melocactus sergipensis. B) Melocactus zehntneri. C) Melocactus vio-
laceus subsp. margaritaceus. D) Melocactus violaceus. E) Melocactus ernestii Vaupel subsp.
ernestii. Fonte: A, B, C e D por Bravo Filho (2014-2015) e em E IUCN, 2016.
22
E. S. Bravo Filho et al.: Melocactus no estado de Sergipe (Brasil) e sua conservação
lha (9º54’02 52’’ S; 37º16’02 98’’ W), Poço
Redondo (10º10’70 56’’ S; 37º42’16 11’’ W)
e Poço Verde (10º52’45 84’’ S; 38º01’25 98’’
W), a maioria pertencente ao alto sertão ser-
gipano, com exceção dos municípios Macam-
bira que pertence ao Agreste e Poço Verde
que se encontra no Sul do estado.
Em virtude da alta degradação da Caatin-
ga, causada, sobretudo pelo avanço de ati-
vidades agropastoris e para a produção de
carvão SEMARH (2012), restam atualmente
pequenas populações do M. zehntneri isola-
das em locais próximos à gruta, pés-de-mor-
ros, e em algumas margens do Rio São Fran-
cisco e afluentes do Rio Vaza-Barris como o
Jacoca. Essas populações ainda remanescem
em virtudes destas localidades serem impró-
prios para a introdução de atividades agro-
pastoris. Apesar de esta espécie ocorrer em
Unidades de conservação como MONA do
Rio São Francisco, MONA Grota do Angico
localizadas e a União Internacional para a
Conservação da Natureza e dos Recursos Na-
turais (IUCN, 2014) registrar o status conser-
vação como pouco preocupante (LC). Estes
dadoso corroboram com à realidade desta
espécie no estado de Sergipe, pois as popula-
ções são cada vez mais suprimidas por fato-
res como degradação da Caatinga e extração
dos espécimes inteiro para produção de do-
ces, forragem para ruminantes de pequeno
porte (ovinos e caprinos), ornamentação e
misticismo (Bravo Filho, 2014).
Material selecionado: Brasil. Sergipe:
Poço Redondo, 2015. Oliveira, EVS; Santos,
Jr; Andrade, RS 555 (ASE- 34495).
3. Melocactus violaceus
subsp. margaritaceus N.P. Taylor,
Bradea, 9: 57, Plate. 1991
Planta terrícola, caule verde de forma
levemente discoide a subglobuloso epode
atingir 20 cm de altura por 20 cm de diâ-
metro, constituída por 8-10 costelas inteiras,
as quais são compostas de 5-9 aréolas e cada
aréola possui de 4-6 espinhos de cor cinza
com comprimento entre 0,8-1 cm. Cefálio
vermelho com tons de branco no centro, flo-
res rosa, fruto suculento tipo baga, cônicos
de cor branca e tamanho variando entre 1-
1,5 cm de comprimento por 7 mm de diâ-
metro. Os frutos possuem de 8-15 sementes,
as quais apresentam diâmetro dio de 1
mm, tegumento rugoso, rígido de cor preta
e formato ovoide.
O M. violaceus subsp. margaritaceus (Fig.
3C) foi registrado a ocorrência em cinco mu-
nicípios do estado, no Leste em Itaporanga
D’ Ajuda (10º52’22 59’’ S; 37º20’55 29’’ W),
Japoatã (10º26’50 33’’ S; 36º49’41 64’’ W) e
Santo Amaro das Brotas (10º78’89 S; 37º05’44
W) e no Agreste em Areia Branca (10º75’78’’
S; 37º31’53’’W) e Itabaiana (10º03’55 55’’ S;
37º40’94 44’’ W), com ocorrência em restin-
gas geralmente sobre areia branca e grossa
em altitude acima de 126 m.
Fig. 4. Gráfico comparativo do número de escies do gênero Melocactus no estado de Ser-
gipe, Brasil e no mundo. Fonte: Bravo Filho (2014); Zappi et al. (2015).
23
Lilloa 55 (1): 1625, 8 de junio de 2018
Esta espécie apresenta a terceira maior
distribuição no estado e apesar da crescente
degradão nos habitats de Restinga e do
extrativismo, grande parte de suas popula-
ções ocorrem em Unidades de Conservação
de Proteção Integral (PARNA Serra de Ita-
baiana e REBIO de Santa Isabel) e em seus
entornos.
Material selecionado: Brasil. Sergipe:
Japoatã, 2014. Bravo Filho, Es 13 (ASE-
30906).
4. Melocactus violaceus
Pfeiff., Pfeiffer, H. Allg. Gartenzehung
(Otto & Dietrich), 3: 313. 1835
Planta tercola, caule verde-escuro de
formanica, com 25 x 20 cm, composto por
10-12 costelas inteiras, as quais são sequen-
ciadas por 11-15 aréolas e em cada aréola
possui de 8-9 espinhos retilíneos de cor cinza
medindo entre 1,5-2 cm de comprimento.
Flor rosa-claro, frutos cônicos, de cor branca,
medindo de 1-2 cm comprimento por 7 mm
de diâmetro, contendo de 8-25 sementes por
fruto.As sementes medem aproximadamente
1 mm, de cor preta e forma ovoide.
O Melocactus violaceus (Fig. 3D) tem dis-
tribuão restrita ao Leste do Estado (lito-
ral) ocorrendo nos municípios de Aracaju
(104’35 1’ S; 37°06’34 0W), Pirambu
(10º41’36 8’’ S; 36º50’35 3’W), Neópolis
(10º 19’ 16’S; 3 35 34’’ W), Pacatuba
(10º27’21 61” S; 36º37’56 33’’ W) e Estância
(11º21’31 8” S; 37º18’48 2” W). O município
Tabela 1. Status de conservação de cinco espécies do gênero Melocactus (Cactaceae) de
Sergipe, em fuão da vulnerabilidade e ameaças em diferentes tipos de vegetação. CR: (Cri-
ticamente Ameaçada), LC: (Menos preocupante), NE: (Não avaliada) VU: (Vulnerável). Bioma:
CA (Caatinga), AG (Agreste), MA (Mata Atntica).
LC
CR
VU
NE
LC
Melocactus ernestii subsp. ernestii
Melocactus sergipensis
Melocactus violaceus
Melocactus violaceus subsp. margaritaceus
Melocactus zehntneri
Escie Status de conservão Localidade Bioma
Tobias Barreto
Sio Dias
Aracaju, Esncia, Japaratuba, Pacatuba,
Pirambu e Neópolis
Areia Branca, Itabaiana, Itaporanga DAjuda,
Japoatã e Santo Amaro das Brotas
Canindé de São Francisco, Gararu, Macambira,
Monte Alegre de Sergipe, Nossa Senhora da Glória,
Poço Redondo, Poço Verde e Porto da Folha
CA
CA
MA
AG MA
CA
de Pacatuba é atualmente o maior sítio de
ocorrência desta espécie, além de possuir o
ecossistema menos degradado e perturbado
pela ação antrópica no estado.
O M. violaceus foi caracterizado pelo Mi-
nistério do Meio Ambiente [MMA] (2014),
LVFB, 2013; International Union for Conser-
vation of Nature [IUCN] (2014) e pelo Centro
Nacional de conservação da Flora [CNCFlo-
ra] (2014) como a única espécie de cactácea
de ocorrência no estado Sergipe com status
de extinção vulnerável (VU). Com o desco-
brimento do M. sergipensis em 2014, existem
atualmente, duas espécies ameaçadas de ex-
tinção no estado [Melocactus violaceus Pfeiff.
(VU) e Melocactus sergipensis (CR)].
Apesar da crescente degradação da Res-
tinga, causada principalmente pela expansão
imobiliária e pela extração de areia, fato que
coloca essa formação vegetal como a mais
suprimida do país PAN (2011). Esta espé-
cie, por crescer na REBIO de Santa Isabel
e em seu entorno, teoricamente encontra-se
protegida, entretanto sofre ameaça pelo ex-
trativismo ilegal, pelas atividades agrícola e
ocupação do solo.
Material selecionado: Brasil. Sergipe:
Pirambu, 2016. Imidio, AM 1 (ASE-37282).
5. Melocactus ernestii
Vaupel. Monatasschr.
Kakteenk., 30:8. 1920
Planta rupícola, caule verde-claro de for-
ma cônica, com 45 x 30 cm, contendo de
24
E. S. Bravo Filho et al.: Melocactus no estado de Sergipe (Brasil) e sua conservação
9-13 costelas inteiras com 8 a 14 espinhos
por aréolas e se destaca em relação às de-
mais espécies do gênero Melocactus por ter
os maiores espinhos do grupo, medindo en-
tre 4 a 10 cm. Flores rosa e frutos cônicos
de cor rosa-escuro.
O M. ernestii Vaupel subsp. ernestii (Fig.
3E) possui registro de ocorrência no Sul
do estado, no município de Tobias Bar-
reto (10º8886 67 S; 37º9809 44 W).
Contudo,esta espécie não foi registrada por
meio desta pesquisa. Desta forma, as in-
formações referentes a esta espécie limita-
ram-se aos dados contidos no Herbário ASE
(2015), da UFS.
Material selecionado: Brasil. Sergipe:
Tobias Barreto, 2013. Nogueira, Jr 23 (ASE-
24309).
Observa-se através da (Fig. 4) que no es-
tado de Sergipe ocorrem um total de cinco
espécies do gênero Melocactus, número que
corresponde, respectivamente a 13,15% e
21,73% da diversidade mundial e brasilei-
ra (respectivamente). Assim, dentre os 13
estados de ocorrência deste gênero no Bra-
sil, Sergipe é o terceiro mais numeroso em
diversidade de espécies de Melocactus junta-
mente com o estado de Pernambuco (Zappi
et al., 2015).
CONCLUSÃO
Encontra-se registrado atualmente cinco
espécies nativas do gênero Melocactus, sendo
uma nova espécie, única endêmica do esta-
do (Melocactus sergipensis). As espécies estão
distribuídas em 21 municípios sergipanos e
com ocorncia fitogeográfica no litoral e
Agreste (Melocactus violaceus e M. violaceus
subsp. margaritaceus), Alto Sertão sergipano
(M. zehntneri) e Sul do estado (M. sergipen-
sis sp. nov. juntamente com M. ernestii subsp.
ernestii).
Nos municípios sergipanos os riscos e
ameaças às espécies de Melocactus são in-
tensas e crescentes, prova desse fato é que a
única espécie de Cactaceae endêmica de Ser-
gipe (M. sergipensis) recém descoberta pode
ser classificada dentro dos critérios e diag-
nostico da IUCN como criticamente amea-
çada, o que torna necessário a ampliação de
áreas protegidas e promoção de ações que
venham a contribuir para a proteção dessas
espécies, como conscientização da popula-
ção, implementão de programas para a
domesticação de plantas para uso comercial
e criação de bancos de germoplasma in vitro
e in situ.
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